A maioria dos programas de "combate" à obesidade infantil incentivam as crianças a "fechar a boca e malhar", colocando a responsabilidade de reduzir o que ela come e aumentar exercício físico na criança. Essa abordagem não tem funcionado: tentativas de tratamento com dietas, remédios e cirurgia não têm dado resultados satisfatórios e têm muitos efeitos secundários. O corpo volta a engordar na maioria das vezes.
A criança é vítima do seu meio ambiente. Por isso, em vez de "combate" deveríamos falar de prevenção, e ajudar a ampliar o foco, não somente na criança. A noção de "combate" pressupõe que a criança obesa de alguma maneira é responsável pela situação n...
[Leia mais]A maioria dos programas de "combate" à obesidade infantil incentivam as crianças a "fechar a boca e malhar", colocando a responsabilidade de reduzir o que ela come e aumentar exercício físico na criança. Essa abordagem não tem funcionado: tentativas de tratamento com dietas, remédios e cirurgia não têm dado resultados satisfatórios e têm muitos efeitos secundários. O corpo volta a engordar na maioria das vezes.
A criança é vítima do seu meio ambiente. Por isso, em vez de "combate" deveríamos falar de prevenção, e ajudar a ampliar o foco, não somente na criança. A noção de "combate" pressupõe que a criança obesa de alguma maneira é responsável pela situação na qual se encontra. Existe uma estigmatização da criança obesa como sendo preguiçosa e sem nenhuma força de vontade ou disciplina. Isso prejudica muito essas crianças, que na realidade estão presas num corpo sem saber o que fazer para mudar a situação. Isso pode até levá-las a sofrer bullying e depressão.
Fechar a boca e malhar não funcionam. É claro que ser ativo é saudável, mas excesso de atividade física pode prejudicar. Fazer dieta restritiva desregula o cérebro, aumenta o apetite, a obsessão por comer e o comer emocional. O cérebro, percebendo uma falta de comida, reduz o metabolismo e começa a "economizar". Esses efeitos são ainda mais fortes em crianças, que estão em desenvolvimento. Em vez de ajudar a criança com restrições, você estressa o cérebro dela, levando à tristeza, depressão ou mesmo comer escondido. O comer escondido não é uma escolha da criança, dá muita vergonha, e isso é o começo de uma vida de compulsão e relação equivocada com a comida, algo difícil de reverter.
Estudos mostram que adolescentes que fazem dietas aumentam em até três vezes o risco de se tornar obesas quando comparados a outros que não fizeram restrições. A obesidade infantil é evitável, apenas alguns casos são geneticamente inevitáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara sobre isso: a obesidade é evitável, mas é difícil de tratar. Quando estudamos a genética da obesidade vemos que têm mais do que 500 fatores genéticos associados a obesidade, todos nós temos um pouco de predisposição à ela. Quem puxa o gatilho é o seu meio ambiente, estilo de vida, e também o estresse psicológico, remédios, desregulamento de hormônios, falta de sono e muito mais. Não é só "comer demais" ou "ser preguiçoso".
Hoje está cada vez mais claro e comprovado que devemos enfatizar uma abordagem chamada "alimentação consciente". É uma forma compassiva para conseguir-se uma alimentação saudável. Ela não somente foca nos alimentos que comemos, mas também como comemos e como nosso corpo se sente. Devemos respeitar a fome e prestar atenção à vontade e saciedade, conexões emocionais com a comida e os relacionamentos envolvidos em comer. A alimentação consciente concentra-se em aspectos positivos e não negativos.
Devemos urgentemente parar de incentivar crianças a fazer dietas. Não adianta falar sobre crianças se você não muda as crenças dos pais e educadores. A Academia Americana de Pediatria (AAP) lançou novas diretrizes recomendando a prevenção conjunta da obesidade e de transtornos alimentares em adolescentes. Eles estabelecem de maneira clara que a dieta restritiva é um fator de risco tanto para obesidade, quanto para transtornos alimentares. "O foco deve ser num estilo de vida saudável ao invés de peso".
A seguir uma tradução das principais recomendações da AAP a pediatras, que são principalmente direcionadas aos pais como agentes de mudança. Pais são incentivados a ser modelos saudáveis, que fornecem acesso fácil à alimentos saudáveis, limitam a disponibilidade de bebidas doces (seja com açúcares naturais ou adoçantes artificias) e oferecem refeições "caseiras" para os filhos. Pais devem ativamente desencorajar dietas e respeitar a fome de todos.
As diretrizes para a prevenção da obesidade e transtornos alimentares em adolescentes:
1. Desencorajar dietas, pular refeições ou remédios. Incentivar uma alimentação saudável e atividade física que pode ser mantida no longo prazo. Procurar um estilo de vida e hábitos saudáveis em vez de focar no peso.
2. Promover uma imagem corporal positiva nos adolescentes. Não encorajar insatisfação com o corpo ou usar essa insatisfação como uma razão para fazer dieta.
3. Procurar ter mais refeições em família.
4. Incentivar as famílias a não falar sobre o peso, mas a falar de alimentação saudável e de ser ativo para se manter saudável. Facilitar alimentação saudável e atividade física em casa.
5. Informar-se sobre uma possível história de bullying e intimidação em adolescentes com sobrepeso e obesidade e abordar a questão em família.
Você é responsável pela rotina e pela qualidade da comida. A criança é dona da sua fome.
Não restrinja o seu filho, respeite sua fome!
Créditos: Com informações tiradas do Huff Post Brasil.